terça-feira, 30 de junho de 2009

O silêncio de Ari José

Parte um - Segredinhos

Quando se apresentava não gostava de esconder, se sentia sujo caso contrário. Dizia sempre: “Ari José, testemunha, cúmplice, e quando muito me convém porteiro”. Assim dispensava maiores contatos.

A verdade é que Cláudia sabia que podia confiar em Ari José. Há 20 anos morava ali, e o porteiro sempre fora de total confiança. Nunca abrira a boca pra nada. Ari José era de fato um cúmplice, o seu cúmplice. Graças a ele, Olavo até hoje não soubera de sua história extraconjugal, ou de suas histórias, em um plural vastamente utilizado.

É bem verdade que Ari José tinha afinidade com o seu Olavo. Mesmo time e tudo. Jamais sonhou em contar para dona Cláudia sobre a loira...as loiras, ou a morena...as morenas, que via sempre com seu Olavo. E também o mundo está tão diferente hoje em dia. Sexo banal. Quem sabe ela até já soubesse de tudo. Melhor seria não arriscar, e fugir de uma eventual saia justa.
O casal vivia assim, em paz, Cláudia e seus amantes, e Olavo com suas loiras, morenas, etecéteras. Ari José era o pivô do sucesso de um casamento de anos.

Quando aquele escritor apareceu, Ari José foi corrompido. Dinheiro, sucesso. Quem sabe o livro ainda teria uma foto sua na capa. A única coisa que o homem lhe revelou fora o título: “Ari José, as histórias de um porteiro”.

Ari José refletiu, pensou se queria mesmo isso pra si. Trairia a confiança de seus moradores. Verdade que não só dona Cláudia e seu Olavo tinham seus próprios adultérios. Quase todo prédio tinha um segredinho, porém, na maioria das vezes, o segredinho não perdurara tempo o suficiente para que Ari José fosse seu zelador. Portanto, sua preocupação foi toda com seu Olavo e dona Cláudia.

Sabia o que ia fazer.

Quando Cláudia botou o pé no prédio e cumprimentou o porteiro, o mesmo lhe proferiu: - Dona Cláudia, tenho que conversar com a senhora. É muito sério.
- O que foi seu Ari José?
- Sabe aquilo que a senhora faz, digo, não que seja da minha conta, mas sabe como é, eu não tenho como deixar de ver.
- Aquilo, o que?
- Os homens
-Meu Deus! Não diz mais nenhuma palavra. Quanto você quer? – disse Cláudia já com a mão no talão de cheques.
Foi aí que Ari José começou a entender, tinha segredos na mão e se tinha segredos, tinha poder. Seria rico o Ari José, já imaginava-se estampando as capas de revistas de fofocas, como uma nova celebridade, mas ao invés de talento, ele tinha segredos.

Ia procurar o seu Olavo, ou melhor, só Olavo agora – o poder subira à cabeça da Ari José -, ia contar do livro, ou ainda, diria que seria um filme.
- Não, Ari José...- dizia Olavo
- Harry Josh.
- O que?- Harry Josh, assim que eu quero que me chamem.
- Ah, sim. Não Harry Jota...
- JOSH!
- Josh, Josh...não é assim que você tem que agir. Quer quanto, ou quer uma de minhas morenas? Loira, loira, ta na sua cara que prefere as loiras.
E assim, dinheiro, mulher, as reticências ainda faltavam. O que acontecerá na vida de Ari José? Digo, digo: Harry Josh.
Você decidirá:
A) Torna-se a cada dia mais rico, pois o seu silêncio vale ouro.
B) Começa a ser ameaçado, pois ele morto é menos perigoso.
C) Dona Ernestina, a mulher de Ari José, ou Harry Josh, começa a receber telefonemas anônimos, revelando segredos do seu marido.

terça-feira, 23 de junho de 2009

O Apagão (parte 3 - final)

- O quê? Como assim, a conta não foi paga?
Que palhaçada é esta? Eu sou muito metódico quanto a isto. Todo mês separo a fatura do cartão de crédito, a conta de água e a conta de luz, e deixo pra minha esposa fazer o pagamento... deve haver algum engano.
Após alguns minutos de discussão, Dilomar toma a decisão:
- Amanha mesmo passo aí e nós resolvemos tudo.
Apesar de todo o constrangimento, Dilomar conseguiu ter uma ótima noite de sono, sabendo que sua estimada petúnia manteve-se a salvo.
Na manhã seguinte, após aprumar-se para o dia que viria, Dilomar chegou à mesa do café majestoso, seguro de si, afinal, era ele quem tomava as decisões naquela casa:
- Jenifer, não tomarei café hoje, tenho que ir até a RGE resolver este mal entendido.
- Calma, espera 5 minutos e eu vou com você, meu bem.
No caminho, Dilomar não parava de falar na humilhação que havia sido exposto.
- Onde já se viu, Jenifer? Eu nunca atrasei uma única conta, e agora eles me vêm com essa.
- Calma amor, quem sabe eles só se enganaram. Não entendo porque você fica tão nervoso, apenas por estarmos sem luz.
- Não gosto disso, Jenifer, não gosto mesmo.
Chegando à RGE, confirma-se a informação passada por telefone:
- Como assim não paguei?
- Meu senhor, esta é a informação que eu tenho aqui. O senhor tem certeza de que não se esqueceu de quitar a fatura?
- Eu tenho absoluta certeza.
- O senhor tem o comprovante de pagamento?
Dilomar volta-se para Jenifer, lançando um olhar como se perguntasse: “Você trouxe, não é?”.
- Na verdade, amor, acho que o perdi.
- Ahh meu Deus. Não acredito que terei que pagar novamente, tudo porque você perdeu o comprovante.
Eu deveria saber que era culpa sua, tu não me conta mais as coisas.
- Eu não te conto as coisas? Você que não demonstra nenhum interesse em conversar comigo, Dilomar!
- Mas é claro, você só vem puxar assunto quando é para pedir presentinhos: “Amor, tu podia me dar uma chapinha nova, não acha?”.
- Discutimos isto em casa, Dilomar, agora, pague logo isto e vamos embora.
- Sua mãe é que inventa essas manias, e tu segue direitinho. Me diz, pra que alisar os cabelos?
- Já disse que depois conversamos sobre isso!
- Moça, qual o valor da fatura mesmo?
A atendente, meio sem jeito responde:
- Cento e vinte e seis reais, senhor.
- Que prejuízo! Viu Jenifer, com este dinheiro, poderia comprar aquela porcaria de aparelho que tu sempre me enche o saco pra te dar, não acha? Mas claro, se você não tivesse perdido o maldito recibo.
Dilomar estava furioso.
Jenifer, em sábias e corajosas palavras, responde:
- Pois é.
Com a paciência esgotando-se, a moça do caixa pede:
- O senhor paga em dinheiro?
- Não, não, pega aqui o meu cartão.
Alguns minutos e cinco tentativas depois:
- Senhor, seu cartão não tem créditos suficientes.
- Como não? Sempre deixo o crédito certinho para todas as contas, não é diferente com a tarifa de luz. Tenta novamente.
- Ah, sim paga, claro. Primeiro a luz, agora o cartão, vejo o quão assíduo pagador o senhor é. Meu senhor, já tentei cinco vezes, não tem créditos.
Dilomar lança um olhar fulminante, sobre Jenifer.
Jenifer virou-se um pouco. 25 graus, botou a mão no bolso. 39 graus, tirou algo de dentro dele. 48 graus, era o celular. 90 graus, apertou botões. 180 graus:

- Alôu, é do Magazine Luiza? Gostaria de fazer uma devolução...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Votação encerrada!

Nos próximos dias estarei postando o final desta história, baseado na alternativa A, que foi a mais votada!

Aproveito para apresentar-me como mais novo integrante deste grupo blogueiro maravilhoso...
A partir de agora, juntamente com o Ricardinho e o Vini, estarei contribuindo com as histórias.

Atenciosamente
Fredi_Bazzan

terça-feira, 16 de junho de 2009

O apagão (segunda parte)

- Dilomar. Tu vai ligar pra porcaria da fornecedora de luz? Ou vou ter que eu me estressar?
- Tenho escolha?
- Ou isso, ou te dou uma facada.
- Ah, duvido.
- Duvida?
- Duvido
- Pois não duvide.
- Pois eu DU-VI-DO.

Aquilo foi o fim. O cúmulo da paciência de uma pessoa se esgota quando alguém, além de duvidar dela, ainda fala como se ela fosse uma criança sendo alfabetizada. Aí não. Jenifer era invocada, que ninguém duvidasse disso, que não duvidassem dele, que ninguém dissesse que não era. E acima de tudo, que Dilomar não duvidasse dela.

- Ah, tu me paga. Vira de costas – vociferou a moça.
- Não viro. Por que viraria?
- Por que sim. Diz no texto anterior que a facada era pelas costas.
- Mas aí é que não viro.Mas não viro mesmo.
- Olha aqui, Dilomar, tu não me irrita, to com a faca.
- Ta nada, a faca ta ali ó – Dilomar apontou para o bidê ao lado da cama.
Constrangida, Jenifer viu que estava com o alicate de tirar cutícula a mão. Dilomar duvidou dela, e ainda a ridicularizou. Isso não ia ficar assim.

- Sabe a petúnia? – disse ela, com a voz mais sarcástica possível.
- Não, petúnia não. Larga isso. A petúnia não.
- Vira de costas, ou acabo com essa tua florzinha de merda.
Dilomar estava encurralado. Um passo em falso perderia a vida, ou pior, a desalmada da Jenifer acabaria com a vida da flor que cultivara com tanto carinho desde a obsolescência de sua juventude. Aquela flor era tudo pra ele, fora sua confidente, durante uma deturpada fase de sua vida. A flor era seu ombro amigo, sua mulher, sua amante, sem sexo, que fique claro. Mas o amor era sem igual.
Sempre tivera o raciocínio rápido, o Dilomar, desenvolveu isso nas longas partidas de xadrez que travara com seu pai, e vez que outra com a petúnia. Sabia que tinha uma única chance de escapar, enquanto virava-se vagarosamente de costas, lembrou-se de toda a discussão. Virou-se um pouco 25 graus, botou a mão no bolso. 39 graus, tirou algo de dentro dele.48 graus, era o celular. 90 graus, apertou botões. 180 graus:

- Alou, é da RGE?


O que acontece a seguir?
A) Jenifer e Dilomar tem que ir até a RGE para que o problema da luz (falta de pagamento), seja resolvido.

B) Jenifer não ta nem ai para a luz. Dilomar a humilhou, ela parte pra cima dele e os dois se engalfinham.

C) Petúnia é assassinada pela possessa e agressiva Jenifer.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Apagão - O início

-O que houve com a luz?
- Não sei, por?
- Não acende ué! Não percebeu que nenhum equipamento elétrico funciona?
- Ahhh, sei lá, deve ter faltado.
- Hum...
Alguns minutos depois.
- Os vizinhos dos dois lados têm luz!
- Aham...
- Aham???? Só nós não temos luz, não acha isso muito estranho?
- É, estranho mesmo.
- Ta, e você vai fazer o que?
- Sei lá?
-Ta de brincadeira né?
- O que houve?
- Nós não temos l-u-z e-l-e-t-r-i-c-a!
-Ah! É mesmo.
Seria um dia comum na vida de Jenifer e Dilomar, não fosse à falta de luz, e falta de comunicação do casal que se tornara evidente nos últimos tempos. Desde o jantar de final de ano, quando a mãe de Jenifer manifestou em frente toda a família o desgosto pela escolha matrimonial da filha, trocar Pedro João, Médico por Dilomar um sujeito simples, calmo, e acima de tudo, um ótimo chapeador de carros.
E agora, é com vocês!
A – Quem reclama da falta de Luz é jenifer, ela perde a paciência e atinge Dilomar pelas costas com uma faca!
B - Quem reclama da falta de Luz é Dilomar, ele perde a paciência e atinge Jenifer pelas costas com uma faca!
C – Eles continuam discutindo.

Problemas de força maior incindiram no atrazo deste post, porém este fato não repetir-se-á!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Na mudança da rotina (parte 3- Final)

Seria possível que o destino lhe pregasse tamanha peça? O ventilador do destino estaria soprando para uma nova direção? Não era admissível ao decorrer de anos, que uma vida inteira tenha passado pela frente de Edilberto, e ele não tenha entendido a missão que Deus lhe dera assim que ele saíra do estimado e quente ventre materno.

O cheiro que sentira, vinha do Zé Jiboia (jiboia sem acento, seu word imbecil). Aquele aroma suave como flor de campo, refrescante como halls preto, e fixante como picão de mato em calça jeans, vinha do filho da mãe do Zé. Era cheiro de macho. Ele, Edilberto Siqueira era uma moçona desvairada.

Edilberto esquecera-se do tempo, da vida, dos problemas, e das mulheres, esquecera-se até que estava a mijar e inundara as belas botas de veludo do Zé. Apenas sentia aquele cheiro. Os segundos estenderam-se, até que sua bexiga esvaziou-se totalmente, e Zé Jiboia tirava a peixeira da guaiaca.

O pobre do Edi (como agora queria ser chamado), tentou – subconscientemente - jurava ele, acariciar o peito cabeludo de Zé, que usava, entreaberta, uma bela camisa marrom escuro. Zé não perdera tempo em ataca-lo.

Ferrenho, feroz, ferrado, fedonho, furtivo...(meu Deus, quantas definições com efe se pode dar uma só batalha?), foi o engalfinhamento dos dois pelo límpido chão do banheiro masculino - tão límpido quanto um chão de banheiro masculino pode ser. Zé não desgrudava de Edilberto, que por sua vez estava adorando a situação, uma vez que descobrira há minutos atrás, o quão fêmea ele era.

Seguranças invadiram o banheiro e separaram os dois, não sem que antes Edilberto levasse um belo murro em sua face, e caísse, desacordado ao solo.

Acordou, em uma cela, sozinho, jogado em um canto sombrio, fétido, mal-acabado, mal-cheiroso e imundo. Não lembrava-se ao certo o motivo de sua prisão, lembrava-se de relances do ocorrido, flashback's lhe voltavam à mente. Estava constrangido o Edilberto, protagonizara um feito ridículo, fora, por momentos é bom que se frise, mais fêmea que a Paris Hilton foi um dia.

Tinha vergonha, a desmoralizante falta de pudor do dia passado lhe assolava o pensamento, porém, sua mente agora viajava aos confins do seu subconsciênte. Tudo o que ocorrera era passado, o futuro seria de redenção ao fiasco, pensaria ele, em alguma forma de se redmir por tamanho descontrole. E o Zé? O que pensaria o Zé?
Foi quando em uma passadela de olhos pela cela da prisão, avistou Zé Jiboia na cela ao lado. Sim, Edilberto pensou, "é minha chance. Vou fazer o que tenho que fazer, isso não pode mais ficar assim, essa angustia vai ter que acabar". Lavantou-se de um pulo, ergueu o queixo, como galo novo estufou o peito, com passadas largas rumou à cela do Zé.
Chegando lá, chamou o ex-amigo indicando com o dedo, e assim que o mesmo chegou, Edilberto colou a cara na grade, e proferiu a frase final, a frase que acabaria de vez com a dúvida, o alento àqueles que ainda enganavam-se:
-Mas hein, Zé, que perfume tu usa?