Quando se apresentava não gostava de esconder, se sentia sujo caso contrário. Dizia sempre: “Ari José, testemunha, cúmplice, e quando muito me convém porteiro”. Assim dispensava maiores contatos.
A verdade é que Cláudia sabia que podia confiar em Ari José. Há 20 anos morava ali, e o porteiro sempre fora de total confiança. Nunca abrira a boca pra nada. Ari José era de fato um cúmplice, o seu cúmplice. Graças a ele, Olavo até hoje não soubera de sua história extraconjugal, ou de suas histórias, em um plural vastamente utilizado.
É bem verdade que Ari José tinha afinidade com o seu Olavo. Mesmo time e tudo. Jamais sonhou em contar para dona Cláudia sobre a loira...as loiras, ou a morena...as morenas, que via sempre com seu Olavo. E também o mundo está tão diferente hoje em dia. Sexo banal. Quem sabe ela até já soubesse de tudo. Melhor seria não arriscar, e fugir de uma eventual saia justa.
O casal vivia assim, em paz, Cláudia e seus amantes, e Olavo com suas loiras, morenas, etecéteras. Ari José era o pivô do sucesso de um casamento de anos.
Quando aquele escritor apareceu, Ari José foi corrompido. Dinheiro, sucesso. Quem sabe o livro ainda teria uma foto sua na capa. A única coisa que o homem lhe revelou fora o título: “Ari José, as histórias de um porteiro”.
Ari José refletiu, pensou se queria mesmo isso pra si. Trairia a confiança de seus moradores. Verdade que não só dona Cláudia e seu Olavo tinham seus próprios adultérios. Quase todo prédio tinha um segredinho, porém, na maioria das vezes, o segredinho não perdurara tempo o suficiente para que Ari José fosse seu zelador. Portanto, sua preocupação foi toda com seu Olavo e dona Cláudia.
Sabia o que ia fazer.
Quando Cláudia botou o pé no prédio e cumprimentou o porteiro, o mesmo lhe proferiu: - Dona Cláudia, tenho que conversar com a senhora. É muito sério.
- O que foi seu Ari José?
- Sabe aquilo que a senhora faz, digo, não que seja da minha conta, mas sabe como é, eu não tenho como deixar de ver.
- Aquilo, o que?
- Os homens
-Meu Deus! Não diz mais nenhuma palavra. Quanto você quer? – disse Cláudia já com a mão no talão de cheques.
Foi aí que Ari José começou a entender, tinha segredos na mão e se tinha segredos, tinha poder. Seria rico o Ari José, já imaginava-se estampando as capas de revistas de fofocas, como uma nova celebridade, mas ao invés de talento, ele tinha segredos.
Ia procurar o seu Olavo, ou melhor, só Olavo agora – o poder subira à cabeça da Ari José -, ia contar do livro, ou ainda, diria que seria um filme.
- Não, Ari José...- dizia Olavo
- Harry Josh.
- O que?- Harry Josh, assim que eu quero que me chamem.
- Ah, sim. Não Harry Jota...
- JOSH!
- Josh, Josh...não é assim que você tem que agir. Quer quanto, ou quer uma de minhas morenas? Loira, loira, ta na sua cara que prefere as loiras.
E assim, dinheiro, mulher, as reticências ainda faltavam. O que acontecerá na vida de Ari José? Digo, digo: Harry Josh.
Você decidirá:
A) Torna-se a cada dia mais rico, pois o seu silêncio vale ouro.Você decidirá:
B) Começa a ser ameaçado, pois ele morto é menos perigoso.
C) Dona Ernestina, a mulher de Ari José, ou Harry Josh, começa a receber telefonemas anônimos, revelando segredos do seu marido.